Seria você um sobrevivente

dos abusos ?

Se você se identificar com alguma dessas falas a seguir, talvez você esteja entre os sobreviventes:


"Então... eu nunca contei para ninguém, mas quando era criança o amiguinho da rua, meu primo, meu tio, o vizinho, meu irmão, meu padrasto ou meu pai fez tal coisa comigo. Na época fiquei com medo de contar para meus pais, ou o abusador me ameaçou. Tive vergonha, achei que era normal. Mesmo não gostando, eu não sabia que era errado. Ou contei para minha mãe e ela não acreditou, fingiu que não ouviu. A vida continuou e eu tive que aprender a lidar com isso."



É assustador a quantidade de pessoas que me procuram por demandas que considero comuns, como ansiedade, medo em excesso, vícios, dependência afetiva, raivas gratuitas, tristeza sem motivo, etc. Digo que considero comum porque é óbvio que uma pessoa irá adoecer com uma rotina de vida acelerada, sem descanso, pausas, prazeres saudáveis. Dificilmente uma pessoa que tem equilíbrio em suas relações e administra bem seu tempo me procura com esses sintomas citados acima. Na verdade, com a vida que todos levam hoje, é difícil encontrar uma maneira de desacelerar, por isso adoecem.

Logo,  essas pessoas vêm para a terapia e, quando começam a narrar suas vidas, em algum momento soltam aquelas falas que estão entre aspas no início desta leitura. São homens ou mulheres que levaram a vida trabalhando, estudando, cresceram às vezes na periferia ou em zonas privilegiadas da cidade. Não importam suas condições, porque esse tipo de abuso acontece em qualquer classe social.

Quando ouço esses relatos, vejo o quão importante é falar sobre esse assunto, porque algumas pessoas que passaram por isso reconhecem suas dores e reconhecem que sofreram abusos. Sofrem caladas. Outras tentaram falar e foram ouvidas. Outras não ganharam espaço, foram chamadas de mentirosas, disseram que estavam "imaginando coisas", foram culpadas por "seduzir" ou "provocar", minimizaram o que aconteceu dizendo "não foi nada demais", foram silenciadas com ameaças ou chantagens.

Para mim, esse é o segundo tipo de violência que um sobrevivente passa: a do descrédito. Às vezes machuca tanto quanto a primeira. Mas saiba: sua verdade continua sendo verdade, independentemente de quem acreditou ou não.

O que é Violência Sexual?


Para continuarmos nessa leitura e esclarecer qualquer ponto de dúvidas vamos entender o que seria um abuso sexual, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a violência sexual é definida como "qualquer ato sexual, tentativa de obter um ato sexual, comentários ou investidas sexuais indesejadas, ou atos direcionados ao tráfico sexual ou de alguma forma direcionados contra a sexualidade de uma pessoa usando coerção". Isso inclui desde toques inadequados até estupro, abuso sexual infantil, assédio sexual, exploração sexual e tráfico para fins sexuais, independentemente da relação entre agressor e vítima.


 Você Pode Ser Esse Sobrevivente!


Essa pessoa pode ser você, meu caro leitor, que hoje se tornou um adulto cheio de marcas e revoltas porque foi exposta ou exposto a abusos sexuais e ninguém o livrou ou defendeu. Passou a não mexer nessa história, deixou guardada num baú dentro de si, cheio de ressentimentos e vergonha. Vive com memórias reprimidas que são verdadeiros fantasmas que assombram sua mente e se sobrecarregam de emoções.


Alguns sinais podem aparecer na vida adulta, e talvez você se identifique com algumas dessas experiências:


Em seus relacionamentos: Dificuldade para confiar nas pessoas, medo de intimidade, ou o extremo oposto - se entregar completamente muito rápido. Pode ser que você tenha padrões repetitivos de relacionamentos tóxicos ou se sinta desconfortável com demonstrações de afeto.
Em seu corpo: Sensações estranhas em determinadas situações, tensões inexplicáveis, dificuldades com a sexualidade, ou até mesmo a sensação de "não habitar" completamente seu próprio corpo. Às vezes dores físicas sem causa médica aparente.
Em suas emoções:  Explosões de raiva desproporcional, episódios de tristeza profunda sem motivo aparente, ansiedade intensa em situações específicas, ou uma sensação constante de que algo "não está certo" em sua vida.
Em sua mente: Memórias fragmentadas, pesadelos recorrentes, flashbacks, ou até mesmo "brancos" na memória de períodos da infância. Pensamentos intrusivos ou comportamentos compulsivos que você não consegue explicar.


As Máscaras dos Sobreviventes


Entenda Bem! quando eu uso o termo "mascaras" não estou  dizendo que pessoas abusadas são falsas, não é nesse sentido da palavra mas sim que algumas pessoas desenvolvem habilidades para lidar com suas dores e criam comportamentos mascarando suas dores que as colocam em conformidade com o que o outro ensinou sobre si. Por isso, muitos sobreviventes se tornaram especialistas em esconder dor, tornando-se:
O Perfeccionista:  Aquele que precisa controlar tudo, fazer tudo perfeitamente, porque assim se sente "seguro" e "digno".
O Cuidador: Pessoa que vive para cuidar dos outros, esquecendo completamente de si mesmo, porque foi assim que aprendeu a "ter valor".
O Invisível:  Quem desenvolveu a arte de passar despercebido, de não "incomodar", de ocupar o menor espaço possível no mundo.
O Rebelde:  Aquele que desenvolveu uma revolta contra tudo e todos, porque a raiva foi a única emoção que o manteve vivo e funcionando.

Reconhece algum desse comportamentos em você?


A Culpa NÃO é Sua


Mas calma, a culpa não é sua. Deixe-me ser muito clara: *NADA do que aconteceu foi culpa sua.* Não importa se você "não gritou", se "não contou para ninguém", se "seu corpo reagiu", se você "voltou ao local" ou se "demorou para falar". 

Crianças não têm capacidade de consentir. Crianças não seduzem adultos. Crianças não provocam abusos. O adulto sempre, SEMPRE, é o único responsável. Você era apenas uma criança que precisava de proteção e não a recebeu. Isso não diz nada sobre quem você é, mas tudo sobre quem deveria ter te protegido e falhou.


O Caminho da Cura Existe


A terapia especializada não vai apagar de sua mente tudo que aconteceu, mas você se lembrará sem dores. Sei que pode parecer impossível, mas a cura é possível. É uma cura que ajuda a reconstruir sua identidade e autoestima, permitindo conhecer sua força, resistência e limites saudáveis. Ela faz você entender que é merecedor de viver um amor com respeito e que não precisa se submeter a qualquer tipo de relacionamento. A cura te liberta das máscaras e te encoraja a ser quem você é, te aceitando física e emocionalmente, te tornando seguro e desenvolvendo poder sobre sua própria vida.


Você merece essa liberdade. Você merece essa paz. e eu estou aqui para te ajudar quando você estiver preparado